sábado, 28 de fevereiro de 2015

Troca de carícias

   -Sabe senhor, às vezes eu penso...
   -Às vezes? Disso eu já sabia – brincou o Sargento Al
   -Deixe-me terminar a frase – respondeu estressado o Cabo Juves. – Como eu ia dizendo, às vezes eu penso sobre o plano daqueles rebeldes de se separarem daquele país de 3° mundo. Como eles eram tolos... Não consigo acreditar que eles acharam que conseguiriam se sustentar com tão pouco.
   -É a vida, gafanhoto. Quando eles viram que não conseguiriam se sustentar, tentaram roubar aquele país, que melhorou com a saída daqueles três estados. Enfim... Isso gerou uma guerra nuclear e hoje estamos aqui, graças a simples rebeldes.
   -Senhor, qual sua... – Juves fora interrompido pelo sino da igreja. Todo dia, aquele sino tocava às 20:00. Era o toque de recolher imposto pelos militares após os frequentes ataques de rebeldes na região.
   -É nossa hora, Cabo. Recolha suas coisas e entre no carro.
   -Sim senhor!
   O Sargento Al e o Cabo Juves eram impostos a fazer a patrulha noturna três dias por semana. Qualquer um que estivesse na rua depois do horário do toque do sino, estava sujeito a prisão se não apresentasse motivos convincentes aos guardas que patrulhavam. Não era só a cidade de Mariot que atuava desta maneira, mas todo o continente restante estava na obrigação de fazer o mesmo.
   As patrulhas ocorriam por toda a cidade para impedir que rebeldes fizessem reuniões para desestruturar alguma parte da milícia. Era comum ver pessoas apressadas correndo por todo lugar após o toque do sino, pois muitas esqueciam da hora e, como não haviam relógios para os moradores pobres da cidade, o sino era como um relógio gigante e barulhento.
   As noites de patrulhas chegavam a ser entediantes para o Cabo Juves, pois não acontecia nada de interessante naquelas madrugadas monótonas. Certas vezes, ele pensava por qual motivo havia entrado para a milícia.
   -Anime-se, Cabo. Bote suas músicas para ouvirmos desta vez – disse o Sargento Al, enquanto Juves abria um leve sorriso e remexia em seus pen-drives.
   Enquanto dirigia, o Sargento Al viu uma estranha luz piscando uns 27 metros de distância. Acelerou o veículo e fechou a cara. O Cabo Juves percebeu a atitude de seu sargento e preparou o cassetete. Quando se aproximaram da luz, um homem fora jogado na frente do veículo e chocou-se com o para-choque dianteiro do carro. Al puxou o freio de mão imediatamente de desceu do carro. Juves, assustado, desceu do veículo também. Ele havia percebido algumas manchas de sangue no vidro e ficou espantado.
   Al fora imediatamente observar o corpo do homem e percebeu que sua garganta havia sido cortada. Toda camisa do sujeito fora pintada de vermelha e seu rosto ganhou um roxo pelo impacto com o carro.
   -Está morto, Juves!
   Juves percebeu a presença de outra pessoa que subia as paredes rapidamente, pulando e se agarrando em objetos ao redor.
   -Parado ai! – gritou Juves, que começou a perseguir o misterioso escalador.
   -Me espere, Juves! –gritou o sargento que começou a perseguir o tal escalador também. Ele acionou o alerta para a polícia local enquanto tentava escalar as paredes.
   Juves e Al foram treinados para esse tipo de perseguição. Portanto, não havia surpresas nas escaladas, mas quem se destacava mais entre os dois era o jovem Juves. O garoto treinava em casa quando tinha que fugir das tarefas que a mãe pedia. Ele sempre subia no telhado de sua casa para observar as estrelas a noite com sua vizinha, Clarice.
   -Você acha que não sou capaz de lhe capturar? – gritava Juves ao misterioso escalador. – Eu vou lhe mostrar quem não é capaz de algo aqui!
   Juves acelerou seus movimentos e dava saltos sobre casas com mais rapidez que o misterioso escalador. Quando viu que podia agarrar aquela pessoa, Juves saltou um beco e se jogou contra o tal escalador que usava uma capa meio esverdeada. Al viu toda a cena e acelerou o passo.
   Quando Juves se deu conta do que tinha acontecido, viu uma faca indo em sua direção e, rapidamente, desviou. Percebeu que era o escalador que dera o golpe. Ambos se levantaram e trocaram golpes um com o outro.
   Usando uma faca de combate, o escalador tentava acertar golpes em Juves, que desviava, criando uma espécie de dança entre os dois. Al se aproximou gritando:
   -Juves! Saia daí!
   O jovem cabo entendeu a mensagem de seu sargento, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, uma risada feminina saiu de dentro do capuz do escalador e, logo depois, um objeto esférico com poucos detalhes e com um pino, semelhante a uma bomba de gás lacrimogêneo.
   Com suavidade, o misterioso escalador puxou o pino, soltou o objeto e cobriu seu rosto com o resto do manto. O tal do objeto explodiu e deixou um grande rastro de fumaça. Al e Juves cobriram seus rostos e tentaram dispersar a fumaça como puderam. Quando a fumaça se espalhou, eles puderam ver a misteriosa pessoa com capuz em um prédio em frente ao beco. A luz do luar permitiu aos dois homens da milícia ver o sorriso coberto de batom vermelho e outras maquiagens.
   -Cuidado para não se arranhar, soldadinho Juves – disse uma voz feminina vinda do capuz esverdeado. – Facas podem ferir... Ou matar!
   O capuz foi retirado pela bela dama que cabelos negros que sorria com sensualidade e malícia ao mesmo tempo. Juves ficou espantado quando reconheceu aquela mulher e nem percebeu o objeto que ela havia arremessado.
   Cortando tudo, menos átomos, aquela faca percorria com suavidade o ar, com uma velocidade que quase se igualava a barreira do som. Abriu sorrateiramente o que restava das nuvens de fumaça de gás que a bomba havia deixado e acertou o braço esquerdo de Juves, cortando nervos até fincar num parapeito próximo.
   Com a velocidade que aquela lâmina que estava extremamente afiada fora lançada, ela deixou apenas a pele ‘’ segurando’’ o braço e o antebraço. Algo tão perfeitamente pensado e calculado para poucos segundos de contas.
   -Juves! Juves! – gritava o Sargento Al enquanto tentava parar o sangramento do cabo.
   -Cla... Cla... – Juves conseguiu dizer palavras incompletas enquanto caia e desmaiava no chão gelado daquela laje.

   Um corte perfeito.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O conto de Anna

     Anna corria alegremente pelos campos floridos de sua casa. Seus cabelos soltos eram facilmente bagunçados pelo vento que batia em seu rosto, enquanto ela dava um sorriso que era comparado aos raios de sol daquela manhã.
     Em sua corrida, Anna lembrava os bons momentos que tivera com seu namorado alguns dias atrás. Infelizmente, sua memória não estava completa. Havia algo diferente com ela, e logo ela foi percebendo isso. Nem todas as flores estavam bonitas, como ela imaginava. E num breve olhar ao seu redor, Anna viu o fogo e o medo. Ela estava se recordando do que tinha acontecido com sua vida.
     Com o medo em suas costas, Anna acelerou a sua corrida matinal. Ao longe, ela podia ver sua casa iluminada, com os campos de tulipas ainda intactos. Ela deu um leve sorriso, que foi se desfazendo aos poucos, devido as flores que estavam ao seu redor. Todas as flores estavam perdendo a cor e a beleza. Ao olhar para elas, não havia mais sentido para a vida, para a família, para o amor. 
     E como o único ponto de felicidade restante, Anna continuou correndo para sua casa, que estava intacta. A escuridão não havia chegado lá. Estava no mesmo ritmo de Anna, que começou a chorar em silêncio. 
     Os raios de sol estavam se perdendo em meio as nuvens negras, e Anna sabia muito bem disso, pois observou antes de todos. Curioso que não havia mais ninguém. Ela corria com seu irmão todo dia de manhã, para ele observar a beleza da natureza, que se perdeu na escuridão. Seu irmão era um viciado em internet, e por isso Anna o levava todas as manhãs para correr nos campos. Ela acreditava que fazendo isso, seu irmão ia viver mais a vida real, e não um mundo virtual, onde as pessoas tendem a ser reais ao ponto de nos ameaçar por uma simples vitória um jogo qualquer. Sua crença nisso era alta, mas nesse ponto, não havia mais nada para se acreditar. Naquele campo, sua fé foi devorada aos poucos pelas sombras do passado. 
     Sua casa estava próxima. Anna ganhou esperanças e correu o mais rápido que conseguiu. Sua fé se restaurou e ela acreditou que podia ir até o fim. Ela finalmente sorriu para vencer as sombras que atormentavam ela. Como os raios de sol, seu sorriso iluminou o caminho, dando beleza as flores ao seu redor. Dando vida ao mundo em sua volta. 
     Anna estava muito perto de sua casa, e conseguiu ver seu irmãozinho na janela, acenando com um sorriso no rosto. Ela também viu ao estranho no céu. Isso incomodou ela, pois era um objeto grande que ia se aproximando aos poucos de sua casa. Não conseguiu definir muito bem o que era, mas sua fé começou a ser consumida novamente, só que mais rapidamente dessa vez. Ela olhou em direção as portas de sua casa, e viu claramente sua mãe, seu pai e seu namorado acenando para ela, com um sorriso no rosto. 
     Sem intenção, ela desviou o olhar e viu que sua luz não era forte o suficiente para combater o medo ao seu redor, que estava sedento no momento. Anna entrou em desespero ao ver que a escuridão era mais rápida que ela. Ela deu o melhor de si para chegar em seus amados parentes. Quando o caminho acabou, ela abraçou os três de uma vez e começou a chorar, sentindo o medo penetrar em sua mente.
     Quando olhou seu pai, ela viu uma lágrima caindo do rosto dele. Ela tentou enxugar, mas ela desmanchou parte de seu rosto. E como ninguém podia esperar, seu pai, sua mãe e seu namorado desmancharam em cinzas negras ao chão. Sem palavras, uma última lágrima caiu de seu rosto, pois o pânico e o desespero não permitiram que ela chorasse mais.
     Caindo de joelhos sobre as cinzas de quem amava, Anna desviou o olhar para a janela, onde seu irmão não tinha mais expressão, mas continuava acenando. Ela também viu o objeto se aproximando da casa. Sua fé não foi restaurada, então ela lançou o olhar de despedida para seu irmão, e uma faca surgiu misteriosamente em suas mãos. Anna, com a faca em mãos, direcionou-a para seu peito. Ela conseguiu ver o grande objeto atingir sua casa e desmanchar seu irmão de seus olhares. Quando tocou o solo, o objeto explodiu, queimando tudo em sua volta, menos Anna, que sem mais opções, perfurou seu peito com a faca, deixando para trás uma cidade em chamas.
     Quando percebeu, Anna estava deitada em uma cama de hospital, onde tinha acabado de acordar de um coma.

Nas vastas terras de Sirius

    Nos tempos em antigos onde heróis batalhavam contra as sombras, dragões reinavam nas mais altas montanhas e vilas eram criadas no meio dos mais recentes vales, havia um homem que se destacava dentre os outros homens do reino de Trageros. Seu nome era Lothar.
    Lothar se destacava não apenas por sua bravura nas batalhas contra o mal, nem mesmo pelo seu charme que atraía mulheres de todas as partes do reino, mas sim por sua honra, que foi ganha depois de salvar o rei Zio da morte certa, quando ambos cavalgavam pelas Terras dos Gigantes de Alzaim. Foi uma das mais assombrosas histórias já contadas pelas Terras de Trageros.
    Enquanto as tropas de do reino Trageros cavalgavam pelas as terras dos gigantes, o Rei Zio se descuidou e caiu do cavalo enquanto subiam os gélidos penhascos de Okoma, em direção as montanhas onde os gigantes eram controlados pelo grande feiticeiro Alzaim. Nesse descuido, uma flecha de fogo fora disparada contra a perna do Rei Zio, e assim foi iniciada a batalha sangrenta entre homens e gigantes. 
    O fogo rapidamente fora apagado pelo próprio rei, mas ele mal conseguia se levantar e coordenar o ataque vindo dos gigantes. Os homens passaram a ser liderados por Lothar, que pegou a espada do comandante morto rapidamente por um dos gigantes, e a ergue sobre sua cabeça, soltando um grito e despejando toda sua fúria sobre a cabeça de um dos gigantes. A batalha durou menos de uma hora. As tropas de Lothar foram massacradas. Restaram apenas o Rei Zio, Lothar e dois soldados.
    Por incrível que pareça, os quatro homens conseguiram sair do local da batalha e se abrigaram em uma caverna próxima. O ferimento de Zio doía cada vez mais. A flecha que foi atirada por um dos homens de Alzaim estava envenenada. Os soldados cuidavam do rei enquanto o grande Lothar pensava em um jeito de escapar.
    Sem um bom plano, os quatro homens foram caminhando na densa nevasca da terra dos gigantes. Lothar, Zio e um dos soldados permaneceram vivos até chegarem em um vilarejo próximo, onde encontraram uma curandeira chamada Natasha, que cuidou do rei por três semanas naquele lugar.  Quando Zio recuperou-se totalmente, ele, Lothar e o soldado do qual não me recordam o nome, partiram em direção ao castelo de Trageros, onde Lothar recebeu seus devidos méritos, junto com aquele outro homem que os acompanhavam. Pouco tempo depois, a curandeira Natasha gerou um filho bastardo que teve com o grande Rei Zio em uma das suas trocas de bandagens diárias.
     Mas nem todo aquele mérito era capaz de apagar a mágoa, o sofrimento e a culpa pela morte de seu filho. Em uma noite de inverno, Lothar fazia a patrulha no castelo enquanto seu filho, Dorin, dormia na cabana em que ambos moravam. Lothar não tinha uma boa relação com seu filho desde a morte de sua esposa, Kristy. Ela havia morrido numa fuga para as terras de Trageros, quando Dorin tinha treze anos. Os exércitos de Razar perseguiram os fazendeiros e guardas nas vilas próximas ao reino de Trageros. A batalha foi vencida pelos Tragerenses, mas mesmo com a vitória, essa luta trouxe muitos prejuízos, pois foi uma das mais sangrentas batalhas no Mundo de Sirius. 
     A história da morte de Dorin também foi sangrenta. Tão sangrenta quanto à batalha de Razar e Zio. Dessa vez, os Marvinenses se aproximavam do portão silenciosamente, aguardando o sinal de seu espião que estava dentro do castelo.
     Lothar não suspeitava que Slade, seu companheiro de guarda, iria trair o reino. Sem que seu companheiro percebesse, Slade acendeu a tocha que ficava centralizada na muralha. Já tinha preparado uma desculpa para seu companheiro se ele percebesse que havia uma luz no meio da muralha. 
     Com a tocha queimando, centenas de Marvinenses começaram a marchar contra os vilarejos, queimando tudo. Queimavam desde casas de madeiras até os próprios moradores. Matavam sem piedade. Não demorou muito para o reino ser alertado e combater a grande ameaça em seus portões. 
     Os guerreiros do castelo tentavam conter a ameaça nos portões enquanto os arqueiros se posicionavam no alto da muralha. Nesse momento, Slade desembainhou sua espada e tentou assassinar Lothar, mas o Guerreiro do Rei se virou rapidamente e conteve o ataque. Não durou nem um minuto para que a cabeça de Slade fosse decepada. Depois de matar Slade, Lothar se lembrou de seu filho, Dorin, que estava com dezessete anos de idade e ficou em uma das casas na vila. O Guerreiro do Rei desceu dos muros do castelo enquanto incontáveis arqueiros chegavam para a muralha.
     Os grandes cavaleiros saíam dos estábulos acompanhados de Lothar. Eles cavalgaram para posições diferentes do vilarejo que ficava em chamas, e com Lothar não foi diferente. Ele cavalgou até a cabana em que Dorin dormia, e viu que as cinzas à consumiram. Por um momento, seu coração parou, até ouvir um grito que o chamava em um poço atrás da cabana. Dorin estava escondido dentro dele. Rapidamente, Lothar o abraçou e o levou para cima do cavalo. Viu que o garoto tinha sofrido um corte pouco acima do joelho da perna esquerda. Lothar não se preocupou muito com isso e abriu caminho pelas ruas da vila que estavam tomadas pelas tropas de Marvin.
     Depois de um contorno estratégico, Lothar conseguiu entrar no portão do castelo. Aliviado, ele olhou para seu filho e deu um sorriso. Dorin respondeu com o mesmo gesto e sua boca começou a sangrar. Ele havia levado flechas nas costas enquanto ele e seu pai cavalgavam. Lothar tentou ajudar seu filho. Ele chamou curandeiros o mais rápido que pode, mas era tarde demais. Dorin se despediu de seu pai com a frase ‘’Eu te amo’’.
     Num ato de fúria, Lothar soltou um grito, desembainhou sua espada e fora confrontar, juntos com seus homens, as tropas dos Marvinenses. A batalha foi feroz, sangrenta e durou horas, mas finalmente, todos os homens de Marvin começaram a recuar. 
     Lothar nunca mais foi o mesmo desde aquele dia.

O relato do paciente zero

O que as pessoas dizem quando estão prestes a morrer? Parece que não tem mais soluções e acabam se suicidando. Afinal, será que a morte realmente é melhor do que a vida? Um dia descobriremos se temos tantas vantagens lá como temos aqui nas <em>Casas Bahia. </em>

Enfim, sem mais delongas, vamos acabar com esse papo macabro. Realmente eu me sinto num texto de <em>Charles Kiefer. </em>Acabo de pegar meu chapéu de feltro(amaciado a cabeça de anjos) e vou descendo as escadas do prédio em que moro. Estou tossindo muito e chego a ver sangue, mas nada com que possa me preocupar, assim espero.

Aqui fora, espero que nenhum pistoleiro esteja mirando em mim. Vou seguir em frente, afinal, tenho compromisso marcado. Uma entrevista de emprego em uma das melhores empresas do estado. Não quero me gabar, mas fui o 7° colocado na prova do ENEM. Isso mesmo! Entre vários milhares de pessoas, eu fui o sétimo. Engraçado como os assuntos vem e vão.  Tenho que pegar o próximo ônibus aqui na estação. Estranho. Uma mulher acaba de me perguntar se eu estou bem ou se preciso de assistência médica. Acabo de perceber que meu nariz está sangrando. Essa minha tosse não para também. Tive que me apoiar em uma jovem criança aqui para que não caísse.

Finalmente esse ônibus chegou! Não tenho forças para subir as escadas e tive que pedir ajuda a dois homens que estavam a minha frente. Com tonturas e com cansaço muscular, tive que ficar no assento preferencial. Não consegui passar a catraca do ônibus e pedi para passarem o cartão para mim. As coisas estão malucas. Estou em dia com a academia e minha forma física está ótima. Não tenho pressão alta e estou um pouco jovem demais para ter algo assim. Se me lembro bem da minha idade, posso afirmar que tenho dezesseis anos. Não! Me enganei! Tenho dezessete anos! Dezessete! Minha identidade pode provar que não estou errado! Não consigo entender por que todos olham para mim. Agora percebi que estou manchado de sangue e estou falando sozinho, mas garanto que estou bem! Vou dizer a eles para não se preocuparem comigo, se bem que este é todo o desejo do ser humano. Ficamos com caras tristes e sonolentas durante o nosso trabalho, na escola, e até nas redes sociais, postando  status de como a vida é ruim e como são pessoas solitárias, postando letras de músicas(essa vai especialmente para garotas) e fotos de como são tão sozinhos. Quando eu vejo alguma dessas fotos, eu sempre digo que isso é uma grande falta de r... finalmente cheguei no ponto certo!

Não consigo me manter de pé. Desabei assim que saí do ônibus e várias pessoas agora me cercam. São muitas vozes para minha cabeça. Me sinto o Charles Xavier, mas não consigo controlar as vozes. Para piorar a situação, estão todos vermelhos com caras de espanto olhando para meu corpo no chão. Espere um momento... meus olhos! Meus olhos estão sangrando! Agora eu admito que tem algo de errado comigo. Será que tem haver com aquela seringa que Alice deixou para mim em seu quarto? Droga! Acabei de me lembrar que era para pegar a seringa com o tubo verde! Não o tubo vermelho! De que adianta chorar agora. Todos vocês que me ajudaram... vão morrer. Foi uma atitude nobre e peço desculpas a vocês e suas respectivas famílias. Bem, não me resta muito tempo, só alguns minutos. Vou ficar aqui no chão rastejando de dor enquanto muitos tentam me colocar em um carro em direção ao hospital. Que ótimo! Ataque epilético justo agora? Parem de me ajudar! Eu já não tenho mais salvação. Vocês ainda tem mais um ou dois dias para se despedir de suas famílias, por que ai as coisas vão se agravar.


Quem poderia imaginar esta doença. Só eu mesmo para ser o paciente zero. Bem... quem sabe a Terra se salve, mas eu acredito que a exterminação é o mais provável. Pelos meus estudos, ninguém tem a mínima ideia de como surgiu algo assim. Vejo vocês no além... ou no céu, sei lá! Deve ter algum bar depois da morte. Salve!

Onde queria estar

Corri daquele corredor escuro onde tais seres não deixavam-me em paz. Mas onde eu poderia ter paz naquele lugar? O fedor era horrível, ouvia sempre barulhos estranhos, memórias me perseguiam, e vários seres tentavam me encurralar. Já tinha visto coisas piores, mas não posso fazer nada contra isso. Já fui ao inferno e agora estou em busca de redenção, por coisas que não fiz. O caminho não tem fim, e a luz no fim do túnel, está se apagando.

Entrei numa porta a minha direita. O chão estava com lodo e quase escorreguei, mas segurei na maçaneta a tempo. Desesperado, abri a porta, entrei no salão escuro e quando fui fechar, eu vi a face deles. Sem expressão, sem vida, sem valor. Parecia uma máquina sendo controlada por algo ou alguém. Olhos azuis escuros, ocupando toda a parte da visão. Não era como a face humana, mas tinha olhos e uma boca. Pingava algo de lá, mas não fiquei para ver. Apenas fechei a porta e a travei com alguns minutos. Quando os sons pararam, relaxei e despejei meu corpo pelo chão frio, pensando no que seria de mim se eu pudesse mudar tudo naquela noite.

Acabam-se os pensamentos e me levanto. Vejo linha azuis pelo chão. O primeiro sinal estava dado. Aquele velho realmente falou a verdade. Comecei a ouvir vários sussurros, mas não entendia nada deles. Olho para o lado e vejo um brilho branco. O segundo sinal estava dado e eu podia confirmar minhas suspeitas. Aquele lugar já não era estranho para mim. Parece que finalmente tinha chegado ao meu destino: o salão principal do Purgatório!

Dei dois passos e os sussurros ficaram mais claros. Podia ouvir algumas palavras como ''idiota'' ou ''dança''. Não fazia sentido. Era muito confuso. Os sussurros aumentaram quando comecei a andar um pouco mais.  Ouvia frases completas como ''você não devia ter feito isso, imbecil'' ou ''dance, miserável, dance''. Não sabia o que pensar, pois aquele velho não havia dado mais instruções. Como prosseguir a tanta variedade em cena? Esqueci que num mundo estranho, eu faço o papel principal.

Tentei tapar os ouvidos, para ver se os sons paravam, mas não consegui o que queria. Corri um pouco e os sons ficaram mais baixos, até ver uma silhueta azul cantando alguma música. Aquela voz deixava um desejo profundo dentro de mim. Um desejo que só uma mulher conseguiu deixar. Eu podia jurar que vi minha mãe cantando para mim, nas noites obscuras em que sentia medo. Todo aquele som da chuva parava. Não ouvia mais relâmpagos, só a voz doce da minha mãe. Quando vejo novamente, a silhueta se transforma numa bela garota. Ela olha para mim e faz um sorriso. Também sorri para ela naquele momento, pois havia me encantado com ela. Encarei ela por alguns segundos, até que uma expressão de medo atingiu seu rosto e simplesmente, a bela garota azulada desapareceu no vazio, deixando a escuridão tomar conta de meu corpo outra vez. Quando me dou por perceber, algo começou a gritar em meu ouvido e me segurou. Algo agoniante e assustador. Me soltei e me deparei com a alma que estava gritando e rindo, ao mesmo tempo. Fiquei paralisado, até perceber que não tinha apenas uma delas.  O salão estava tomado por eles.

Me desesperei e corri naquele palco imenso. Haviam várias cadeiras postas, com silhuetas azuladas no meio da escuridão. Era realmente bonito de se ver, mas não era bom. Era assustador. Horripilante. Eu não conseguia me acalmar, até que esbarrei em alguém que ria loucamente:

-Opa, aceita um drinque? - disse o homem, jogando o líquido em meu rosto

Me afastei rapidamente, tentando me manter o mais longe possível daquelas ''pessoas'', mas não importava onde eu pisasse, eu sempre esbarra em alguém:

-Olhe para frente, idiota!

-Mendigo, dance para mim!

-Você não vai me roubar! Ela só já basta!

-Afaste-se, ou faço-lhe em picadinhos.

Não importava para onde olhasse, sempre tinha alguém falando comigo. Eu estava num sonho? Todos eram estranhos. Todos estavam presos no mesmo lugar, no mesmo salão. Este seria realmente o salão principal do Purgatório? Eu estava perdido, mas estava consciente,. Ou não estava? O salão estava tomando pelas mesmas almas, com características únicas. Excluídos da sociedade. Exilados do país. Jogados num hospício pelos familiares. Eu estava num lugar de loucos. Mas quem realmente é o louco? Eles por serem estranhos e anti-sociáveis, ou eu, por considerar-me normal num lugar repleto de estranhos seres normais aglomerados nesse lixo.

Me acalmei e comecei a caminhar entre eles. Não sentia tanto pavor como antes, mas estava cauteloso. Um cheiro forte de fumaça atingiu minhas narinas.  Reconhecia aquele cheiro. Era único. Um cigarro Hudson com folhas de maconha sendo aproveitado pelo velho conhecido Jakens! Como não poderia reconhecer aquele senhor imundo! Tentei localiza-lo, estava sentando ao pé de uma arquibancada vazia, fumando seus cigarros:

-Jakens! -gritei.

-Alex? É você mesmo?

-Sou eu, Jakens. Você mudou muito

-Você também velho amigo. Por que está aqui?

-Nem eu sei. Me falaram que eu encontraria uma saída se viesse aqui.

-Saída? Então não és daqui? Liberte sua alma!

-Minha alma?

-Você ficará aqui, como um de nós!

E de repente, todos olhavam para mim com uma cara de dúvida e de desprezo. Comecei a sentir frio e ouvi um coro começar dos fundos:

-Matem e transformem! Matem e transformem!

-Jakens, me ajude cara - falei para meu companheiro, que repetia a mesma frase que todos.

Estava sozinho e encurralado. Comecei a gritar e a correr no meio deles. Desapareciam como nuvem, mas sentia o peso de cada alma sobre minhas costas, quase não aguentando mais. Meu fôlego acabou. Minhas esperanças foram com ele. Eu estava morto. Fechei os olhos e comecei a chorar.

Uma mão veio sobre meu ombro direito. Resisti a ela e abri os olhos. Vi a garota novamente em minha frente, sorrindo para mim. Seu sorriso era estonteante. Seus olhos eram profundos e castanhos, assim como seu cabelo. Estava apaixonado novamente. Me senti como um garoto. Ela me ajudou a me levantar e apontou para uma porta que brilhava em meio a escuridão azulada. Quando fui agradecer, ela havia desaparecido.

Num remorso, corri como um louco atrás da saída. Não podia parar, pois ainda estavam atrás de mim. Seguraram meu ombro, mas consegui abrir aquela porta e correr para a luz, onde pelo menos achava que estaria salvo. Respirei fundo e fiquei aliviado. Aquilo tudo ficou para trás e parecia que tudo acabou. Como estava enganado...

Contos de Gaza

-Ao menos, tente ver o lado bom disso, Abba...

-Lado bom? Lado bom? Você ficou maluco, Caleb, maluco. Você vê lado bom nisso? Eu não vejo lado bom em centenas de corpos no chão. Preferia estar em qualquer outro lugar do mundo agora, mas isso é injustiça. Estamos seguindo as ordens desse governo que quer apenas guerra e morte. Acha que eu me divirto assim? Para você é fácil ver todos assim e ainda ser otimista, mas para mim não... por curiosidade, qual o lado bom disso mesmo?

-Bem... não teremos mais problemas com a superpopulação... eu acho... pensando bem, Abba, você pode ter...

-CUIDA...

Tão intenso e rápido, uma nuvem negra se formou entre os dois soldados israelenses, causando tamanha destruição no local. Enquanto ambos discutiam sobre a possível guerra, outros pressionavam o botão na tela do computador. Depois de alguns minutos, poderia sentir o chão tremer. Não tiveram chance de se proteger ou esconder, mas logo foram sumindo sem deixar marcas. Daqui um tempo, estarão observando crianças e pais chorando pela perda dos dois filhos. Um ódio profundo se criará e ficará preso naquelas medalhas de honra que sempre entregam depois da morte. Felizmente, ambos estavam atrás de uma pedra na hora do incidente. Acordaram depois de três horas:

-Você está bem? - Abba perguntava ao seu companheiro, que acordava no mesmo momento e tentava se levantar.

-Eu acho que sim. -responde Caleb com dificuldades -Estou sentindo dores, mas nada tão preocupante. Onde estamos?

-No mesmo local, mas está tudo destruído... ei, consegue ouvir?

-Ouvir o quê?

-Preste atenção, Caleb...

Podia-se ouvir sons de passos se aproximando. Uma tropa de aproximava a norte da posição atual dos dois irmãos. Estavam assustados, mas preparados para esse tipo de situação. Pensaram num plano e tentaram sair da vista da tropa:

-No três, ok? Um, dois, três!

Correram como nunca os dois irmãos Caleb e Abba da tropa de Gaza que se aproximava. Ambos escutaram tiros se gritos, mas tentavam ignorá-los o máximo que podiam. Entraram nas ruínas de uma casa a frente e se esconderam:

-Mas que merda, Caleb! Estamos fritos agora!

-Ainda não, Abba, vamos ter que...

-O quê? Você não está pensando nisso... deve haver outra solução. Sabe como eu me sinto em relação a isso, Caleb. Vamos fugir desse lugar e tentar encontrar nossos aliados. Quem sabe encontramos o General Gideon. Qualquer coisa, menos isso...

-Eu sinto muito, Abba, mas é necessário.

Num ato de bravura, o irmão mais velho pegou sua arma e apontou para as tropas palestinas que se aproximavam. Sem hesitar, abriu fogo contra eles. Logo em seguida, seu irmão fez a mesma coisa. Podia-se ver corpos caindo e outros se escondendo. Podia-se ouvir gritos desesperadores, balas ricocheteando em barras de metal presas a estrutura da casa e explosões absurdas feitas pelas granadas que foram lançadas, sem destino. Podia-se sentir o frio na barriga e a dor de cada bala perfurando alguns. Podia-se lutar como nunca naquele local. Podia-se viver numa verdadeira guerra.

Os irmãos pararam para recarregar e logo voltaram a ativa. Alguns segundos depois, um grito solitário ecoou por toda casa, cessando o fogo disparado por Abba. Caleb, ferido por uma bala no pescoço, estava caído no chão sem expressões, enquanto seu irmão olhava-o chorando como nunca.

-Caleb, por favor Caleb... não me deixe nesse inferno sozinho Caleb. Vamos superar isso juntos, irmão. Não se vá por favor, Caleb... Eu lhe imploro, Allah, traga meu irmão de volta. Eu lhe suplico... tire minha vida no lugar da dele. Deixe-o viver junto aos filhos, mas não deixe-o morrer tão jovem.

Podia se ver o sangue no rosto dos dois rapazes. Caleb agora estava morto enquanto seu irmão chorava como nunca tinha chorado. Acabara de perder alguém que admirava muito. Abba estava numa fúria incontrolável agora. Prometeu acabar com todos que tinham cooperado na morte do seu querido irmão. Num ato de fúria, pegou sua arma, suspirou, mirou e começou a matar. Não pensava em mais nada a não ser no irmão morto, até que seu corpo ficou leve e parou de pensar. Parou de sentir. Parou de viver. Uma bala havia penetrado na cabeça de Abba, causando assim sua trágica morte. Ambos irmãos estavam caídos enquanto as tropas palestinas avançavam contra os corpos. Ambos foram recolhidos e cremados.

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Uma semana depois, Avivah estava em sua casa com seus filhos, Gabriel e Hod, quando bateram na porta. Avivah, preocupada, fora atender rapidamente com um sorriso no rosto, que logo se transformou em lágrimas. Caleb deixou uma mulher viúva com dois filhos para criar. Voltamos a história daquela medalha de honra que causava ódio e destruía famílias e corações. Num gesto nobre, o General Gideon entregava as duas medalhas de honra a Avivah. Medalhas que continham uma mensagem padrão, mas nessas tinha algo de novo. Algo diferente para os dois melhores soldados que serviram a pátria como nunca. Na medalha de Abba, poderia ler a seguinte palavra ''Caleb'', que significava ''destemido''. Na medalha de Caleb, lia-se a palavra ''Abba'', que tinha o significado de ''pai'', em homenagem ao pai de dois filhos morto em batalha. Ambas medalhas com os nomes ''trocados'' propositalmente, valorizando o que cada soldado tinha para oferecer. Honra primeiro, glória depois.

As crianças chegaram depois ao ver a mãe chorando. O próprio Gideon tratou de dar a notícia. Gabriel e Hod, grandes irmão, começaram a despejar no choro. Ambos lutariam por seu país vários anos depois, mas naquela data, Gideon tratou de dar-lhes duas medalhas, dizendo as seguintes palavras:

-Com o esplendor do sol, ambos terão força para superar isso. Meus pêsames

Um pequeno trocadilho feito pelo General, que traduziu os nomes de ambos os filhos numa frase. Gideon era muito próximo da família e, por isso entregou a mensagem. Ambos irmãos, unidos, tornariam a entrar no exército anos depois. Ambos fariam a mesma coisa que fizeram Abba e Caleb. Ambos sonhavam em se tornar heróis como seu pai e seu tio. Não se via diferença na união de ambos irmãos. Como antes, eram dois contra o mundo.

Abba não cumpriu sua promessa.

Pensando num título para chamar sua atenção

É impressionante os feitos do ser humano. Da idade da pedra para uma tecnologia tão avançada, tão inovadora, tão controladora e hipnotizante que para conversarmos com alguém do nosso lado, precisamos mandar uma mensagem de texto pelo celular. Os antigos encontros de amigos eram extraordinários. Cada um contando o que tinha passado nas férias, na faculdade ou em algo do tipo. Hoje em dia, você pode ir na praça de alimentação que você verá em uma mesa três amigas. Você começa a observar a cena, e o momento da troca de olhares ocorre apenas duas vezes. Na hora da chegada e na hora da saída, o resto do tempo, estão presas no viciante celular, um feito da tecnologia inocente que hoje controla pessoas facilmente com a internet e seus outros aplicativos.

Não estou aqui para falar mal do celular, que é um feito incrível e impressionante para nossa sociedade. Conseguiram jogar um computador antigo dentro dessa pequena máquina. Obrigado grande Martin Cooper que realizou a primeira ligação em 1973 dando asas a imaginação  e ao que vemos hoje em dia. O senhor é uma pessoa incrível. Conseguiu quebrar distâncias apenas digitando alguns números em algo portátil. Com a evolução do celular, as pessoas exageraram e hoje estão quebrando distâncias de 50 centímetros.

Lembram daqueles amigos que eu contei? Eram três amigos de colégio. Apenas um continuou nele e os outros dois foram para outros. Ficaram sem se ver por um ano, mas com a tecnologia, as distâncias não eram problemas. Era só discar o número e bingo! Fácil, não? Isso foi a uns 7 anos atrás. Eles se encontraram na biblioteca. Cada um tinha mudado, cada um tinha outros amigos, uma namorada, cursos novos, etc, mas eles não mudaram o jeito de ser um com o outro. As longas conversas que tiveram naquela tarde foram encantadoras. Histórias de aventuras vividas ao longo do ano, de terrores vividos, de amores perdidos, que levaram até onde eles estavam. No fim daquela tarde, eles passaram a se encontrar semanalmente, agora que estava tudo mais tranquilo.

Três amigas se encontram no shopping. A primeira troca de olhares e as palavras começam ai. ''Oi, tudo bem?'', uma delas disse e as outras que sobraram disseram sim. Depois dos cumprimentos, elas se sentaram em uma mesa e ficaram com os olhos travados nos celulares, em torno de 3 horas. ''Mas elas trocaram olhares apenas duas vezes?'', não. As três garotas viciadas mostravam fotos e vídeos umas para as outras, achando que isso era uma relação social. Ficaram rodeando todo o estabelecimento assim, e a cada cinco minutos, paravam para tirar uma foto e postar uma letra de música que não tinha nada a ver com o momento de ignorância que estavam passando em uma rede social qualquer, se alimentando de curtidores que estavam apenas interessados em seus decotes. Esse tipo de foto, hoje em dia, é mais conhecido como ''Selfie''. Antigamente era conhecido como falta de educação.

Eu queria saber como seria a relação delas se algum cara qualquer roubasse os celulares. Qual seria a reação? Será que elas ficariam felizes por saírem de uma prisão, ou tristes pois não poderão mais falar com um cara que uma delas estava interessada, e ficara mandando fotos nuas para a pessoa, achando que estava sendo sexy e uma pessoa legal. Comprando a pessoa com o próprio corpo, mas elas podem, não é? Hoje em dia se você anda com alguns caras ''vida louca'', que se pagam de machões e tiram fotos com a língua para fora com alguma frase de música ou de Deus para ganhar curtidas, ou também por que tem seios grandes e nádegas exageradas, ou até por que é uma garota bonita, inteligente, com um futuro brilhante, pronta para qualquer dificuldade, e posta uma foto na rede social se mostrando inteira para dizer ''Tô feia rsrs''. Sinceramente, a vontade é de mandar todos para lá e deixar quietos.

Essa é uma história de 2014. Ambas histórias foram inventadas, mas baseadas em fatos reais que eu não presenciei e não ouvi falar, claro. O texto teve muito humor e foi um pouco exagerado, mas está assim por que deve estar. Está assim por que hoje não podemos falar a frase ''Aproveite o dia''.

O morador de rua

Olhe longe quem vem lá

Um velho morador a passar

Pessoa de rua, caminha junto a foice

Cidadão de outro sol, o sol da meia-noite


Qual o tamanho de sua vida social

Ele é apenas um senhor, um velho banal

Sem muita oportunidade, sua vida é uma folha

Leva a vida sem fé, sem idade, sem escolha


Joguem os dados da vida, que definirão seu tempo

Chuto três semanas, algo doloroso e lento

Mas se ele caminha, eu vou atrás, crendo


O que passa mais rápido sob a luz da lua

Do que o tempo desse velho morador de rua

Com ele eu posso ver a verdade, nua e crua

Um simples poder

É incrível como pensamos em algo extraordinário, revolucionário, que poderia mudar o mundo, e quando vemos o que é, nos arrependemos de ter ido lá. Criamos um universo diferente em nossas cabeças, cheio de vitórias, ignorância, sangue, amor, e quando acordamos, percebemos que tudo aquilo foi uma ilusão e o que realmente é o sofrimento, a discórdia e o caos. Tudo a base da nossa mente magnífica! O pior de acordar e ver que você pode ter causado dor e sofrimento a alguém que ama. É ver seu irmão morto a tiros do seu lado e não poder fazer nada, pois você está na Terra de Ninguém.

Balas quebrando a suavidade do vento. Pessoas caídas mortas ao chão, gritando, chorando, sofrendo de dor, esperando a morte ir até ela ou alguma alma boa para salvá-la. O medo de ter medo de cada soldado antes de caminhar até a morte para finalmente tentar dominar algo, mas foi em vão. Ver que todos são seres humanos morrendo por uma guerra injusta. Pela ignorância e por ganância, sabendo que nessa guerra não serão eles que vão morrer, e sim os pobres que abandonaram suas famílias, seus serviços e sua vida antiga para viver, provavelmente, sua última experiência de vida, mas se eles voltarem, não serão mais os mesmos. Não serão os mesmo pais como antes, que sorriam e brincavam sempre com seus filhos quando chegavam em casa, que davam sempre um beijo em sua mulher e sorria, perguntando sobre o jantar. Uma simples guerra muda tudo. Muda toda sua realidade, pois nela, você conhece outros na mesma situação. Faz amigos em vão, pois no dia seguinte, um de vocês irá morrer.

Um dia de trégua entre três potências resultou na melhor noite da vida de um soldado em meio a guerra. Um período de paz, onde pode comemorar o Natal cantando com os outros, para um alemão ousar sair de sua trincheira com uma árvore de natal nas mãos, parar em meio a terra de ninguém, cantando músicas natalinas com alguns escoceses tocando gaita de fole, acompanhando seu ritmo. Esse ousado alemão desejou um feliz natal a escoceses e franceses, que responderam caminhando em sua direção. Três generais que são obrigados a ser inimigos uns dos outros com seus exércitos, passam a noite em paz e harmonia, conversando entre si, junto com suas tropas. Assim ocorreu nos dias seguintes até um deles morrer e o tal francês ir ao seu encontro, chorando e sofrendo com a morte de seu amigo alemão.

Cada um com seu rumo e sua história. Não existe a terra de ninguém. Não existe diferenças, pois somos todos de carne e ossos. Existe algo mais forte que todos nós: o dinheiro. Ele move o mundo e ele move as mentes fracas. Ele destrói famílias e nações, causando guerras, discórdia, caos, sofrimento.

A dor de perder seu irmão em batalha. O arrependimento de ter entrado na igreja comemorando a guerra e alistar seu irmão e o padre, que na noite de natal, celebrou a missa com todos os soldados. Depois você encontra o corpo do seu irmão, em meio a neve, pega um cobertor e se deita com ele. Enterra ele, junto com outras tropas, enterrando seus amigos. Essa dor é extrema, mas não a pior.

Um pai ser obrigado a se alistar, junto com seu filho. Chegar nessa guerra e tentar proteger ele o máximo que pode, mas uma bala, um simples projétil de metal que perfurou o vento, causando grande estrago aos ouvidos de uma pobre senhora, para no peito da pessoa que mais ama. Esse pai desesperado tenta salvar o filho, mas é tarde demais. Esta é a pior dor que alguém poderia sofrer. Ver seu filho morrer em sua frente, sem poder fazer nada. A dor de não poder fazer nada, de não o ver crescer mais. ''Por que ele? Eu estava ao lado dele! Atire em mim!''. Infelizmente, é tarde de mais para essa jovem alma. Esta é a guerra que muda pessoas.

Um mundo onde poderíamos ser amigos uns dos outros. Onde poderíamos ser todos irmãos. Onde os jovens de hoje pedem a guerra e pedem com vontade, pois nos jogos, eles humilham seus irmãos, causando mais ódio e mais desejo de guerra. O ego aumenta e você se esquece das pessoas que ama. Se você ainda está lendo isso, olhe por sua janela e veja como está o céu. Não importa como ele esteja, o pior ainda vai vir.

E vocês que ainda insistem na guerra e no poder, vivam uma para aprender.

O pai

Dia e noite sem parar, ele trabalhava duro. Não tinha dívidas a pagar, morava em uma boa casa. Era feliz. Excepcional o modo que ele tratava seu filho. Brincavam juntos toda a noite com jogos de tabuleiros, video-games, luta, futebol e outras coisas. Fingia perder pra ver o belo sorriso no rosto da criança. Aquela felicidade dava forças para o homem todos os dias.

Chegando em casa, a criança já sabia o que fazer, mas o pai estava ocupado demais naquela noite. Lotado de papéis, chamou a mulher em seu escritório e ficaram lá por meia hora. Quando saiu com suor na cabeça, olhou para a criança e deu um sorriso, pronto para mais uma aventura, mesmo sabendo que foi demitido aquele dia pois a empresa estava falindo, junto com muitas outras. A taxa de desemprego foi alta naquele mês.

A criança estranhava por que seu pai ficava em casa todos os dias pesquisando e lendo anúncios em jornais e na televisão, mas ele sempre estava disposto para ensinar a ela e brincar com ela. Ela estranhou mais ainda quando descobriu que tinha que sair da escola pois seu pai não tinha dinheiro para bancá-la. Foi para uma escola pública, onde apanhava todo o dia. Chegava em casa chorando e o pai ensinava ela a se defender, até que conseguiu. Chegou um dia em casa com um sorriso por ter conseguido se defender. Estava machucado, mas tinha batido também.

Passaram-se meses até que aquela família teve que mudar. Era um sermão por noite na mulher na nova casa. Um barraco com aluguel e a vida daquela família continuava. Um dia, a mulher e o homem ficaram discutindo por horas. Ele tinha descoberto que ela o traíra faz um tempo. O jovem apenas escutava aquela discussão e lamentava. Duas semanas depois, eles se divorciaram.

O aluguel foi ficando caro e o pai desse jovem chegou ao limite: virou morador de rua. Não tinha o apoio da família, que também estava com uma péssima saúde financeira. Todos os dias, esse homem roubava uns 4 pães e alimentava seu filho. Ensinava ele nas ruas e fazia o máximo para protegê-lo. Não deixava que ninguém tocasse nele e viviam a vida assim.

Passaram-se um, dois, quatro anos e o jovem completou 14 anos. O pai resolveu comemorar de uma forma que animasse ele: tentou roubar um bolo de uma padaria. Mas não foi bem assim. Ele pediu e insistiu ao dono da padaria para ceder um bolo para comemorar o aniversário. Contou toda sua história para ele mas era de se esperar que o tal dono não se comovesse com o pobre formado em engenharia civil e direito.

Na mesma noite, ele tentou roubar um bolo para surpreender o seu filho, mas ele foi surpreendido com uma bala nas costas, disparada por um policial ignorante, que deu um depoimento ridículo num lugar onde tinha testemunhas. O corpo desse pai ficou caído lá, e seu filho estava ao lado, chorando sem saber o que fazer. O policial explica o que tinha acontecido para o jovem e diz palavras ridículas para ele:

-Esse seu pai é só mais um ladrão que está morto. Não vai fazer diferença. Lhe fiz um favor garoto, não seja igual seu pai!

O jovem com o ódio correndo pelas veias com a vontade de matar o policial, queimar seu corpo e jogá-lo no mais profundo lugar do inferno, apenas respondeu, com uma voz no choro:

-Eu quero ser como meu pai! Ele não era um ladrão, ele era um herói!

Velha infância

Lembro-me que quando criança, adorava sair para brincar no pátio do meu prédio. Eu, minha irmã e os vizinhos nos divertíamos muito. Jogos que nunca perdiam a graça, festas de aniversário, até o bingo na casa de uma tia que nunca tive.
Me recordo que os melhores momentos era quando meus primos chegavam e ficávamos horas jogando vídeo-games. Existia o ''Guitar Hero'' em que sempre tentávamos finalizar e que quando conseguíamos, ficávamos disputando quem era o melhor.
Eu adorava sair nas ruas para brincar com as pessoas do prédio vizinho. Jogávamos futebol e cartas. Nessa mesma época eu tinha descoberto a internet, que não me interessava tanto quanto hoje. Foi uma infância perfeita pra mim.
Hoje em dia, quando eu saio nas ruas, vejo sempre pessoas da minha idade jogando bola nas quadras. É bom ver que a mania não mudou. Bem, não para todos.
Hoje estou saindo mais de casa e vendo mais o mundo. É bonito, muito bonito. É melhor do que ficar preso em uma cadeira todos os dias sem dizer nada. Eu recomendo a vocês que ficam assim.
Também é interessante ver que as crianças hoje não mudaram muito. Elas estão mais envolvidas com a tecnologia, claro, mas elas também se divertem no quintal das casas com os primos ou amigos. Daqui um tempo isso vai mudar, pois tem garotos de 6 a 7 anos que estão melhores em um celular touch-screen do que eu. Isso não é novidade, nunca me dei bem com celulares.
Essa época que falei com vocês foi a uns 5 a 10 anos atrás. Bons tempos aqueles. Velha infância sempre surpreendendo. Pena que não possa voltar atrás, mas o que importa e seguir em frente...

Daqui a um tempo, seremos dominados pelas máquinas. Se hoje já somos quase dependentes, imagine no futuro. É até bom que elas existam, pois facilitam tudo, mas nunca deixam de lado a glória da conquista.

Um ano a cada dia

E continuo andando pela praia. Lembro de tudo que aconteceu naquele ano como se fosse ontem. Cada ofensa, cada ligação, cada sujeira, cada amor, cada hora. Não é tão simples levar uma vida de ódio com essa idade. A propósito, qual é ela mesmo? 63 anos? Obrigado, mas por que tenho essa cara de jovem?

Cada coisa inexplicável nessa vida. Passei por muita coisa e creio que vou morrer daqui uns 5 anos. Será mesmo que essa vida foi a que eu queria? Eu nunca me casei, sempre fui solitário, não assumia nada... cara, eu me odeio.

Tantos talentos desperdiçados. Eu poderia mudar esse mundo, mas já não tenho todo o tempo, só tenho a aparência.

Engraçado, ainda estou no ensino médio com pessoas bem novas, com pouca história e muito fôlego. Lembro que jogava bola todo dia, hoje, fico atrás de uma mesa ensinando essa garotada, mas eles não tem vontade de aprender nada. Antigamente, tudo era mais difícil. Conseguir informações sobre o que nos cerca era um sonho de todos, pelo menos o meu, e até hoje continua. Hoje em dia, é tudo mais fácil com esses novos equipamentos e sistemas que criaram. Fico com medo do futuro dessas pessoas. Os pais trabalham muito para conseguir o dinheiro do pão, da água, da educação, do bom professor com um salário mínimo que vem sempre que pode ensinar seus alunos ao máximo para ele viver num mundo falso de sonhos e esquecer de trabalhar. Essas pessoas não precisam mudar, e sim suas atitudes.

Afinal, o que adianta protestar por um salário maior sendo que nem contratados serão? Crianças e sempre crianças? ''Vivam a infância!'', ''somos jovens!'', ''podemos tudo!''. Podem tudo até uma certa hora, pois o futuro é de vocês.

Estou passando a responsabilidade para meu aprendiz. Não tenho 63 anos, não sou nada mais que uma simples pessoa. Nada mais que um companheiro. O que eu ensino? Não ensino física nem matemática, muito menos português. Eu apenas ensino a vida, e quem vive são vocês

A noiva do porão

Raios caiam naquela noite. Não existira mais conforto no colo da mãe, segurança nos braços do pai, era apenas algo sem vida

Não poderiam fazer nada naquela noite. Clark  não parava de reclamar enquanto Clarence tentava pensar. O jovem Clark, de 8 anos, foi desafiado pelo irmão mais velho:

-Aposto que você não consegue ir ao porão hoje a meia noite e gritar três vezes ''Noiva, venha me buscar'' - disse Clarence. A história dessa casa é antiga. Diziam que existia uma velha mulher que ia se casar e na hora H, caiu da escada do porão, que antes era uma lavanderia, bateu a cabeça e morreu.

-Está maluco? - respondeu Clark - Não vou fazer isso!

-Está com medo, garotinha?

Clark odiava ser chamado de ''garotinha'' pelo irmão. Ele sempre surtava

-Não me chame assim! Não tenho medo, é que...

-O Clark é mocinha! O Clark é mocinha - interrompeu Clarence, zombando do irmão - Fracote!

-Eu vou! - disse Clark surpreendendo seu irmão - você verá! O fracote aqui é você!

Os dois irmãos esperaram até meia noite e foram para o porão. Clarence esperou no corredor enquanto o menor entrava naquele lugar escuro e sem vida. Tudo parecia quebrado e ouvia-se barulhos estranhos naquele lugar. Clark, morrendo de medo, gritou:

-Noiva, venha me buscar!

Nada aconteceu. Continuou a mesma cena, mas o lugar ficou mais gelado.

-Noiva, venha me buscar!

De repente, uma silhueta branca apareceu na frente de Clark. Não tinha rosto nem forma de humano. Parecia uma grande esfera. Clark começou a chorar querendo sair de lá, mas seu irmão tinha trancado a porta. Não tinha escolha se não gritar a frase novamente. E assim, ele o fez:

-Noiva, venha me buscar.

A esfera tornou-se uma mulher flutuante. Parecia sem vida, sem cor, sem alegria. A tal mulher começou a gritar e ir em direção a Clark, que gritava e chorava. Viu a mulher lhe matar quando ela só o atravessou. Não sentiu nada. Estava vivo e inteiro. Soltando uma gargalhada, Clark começou a gritar ''Eu ganhei, Clarence, você é o fracote'' com um tom de vitória. Mas quem estava ali para escutar? Seu irmão tinha sumido. Procurou por seus pais, que também tinham sumido por toda a casa. Ele estava chorando desesperado.

Correu daquela casa. Foi para a rua com esperança de encontrar alguma coisa, e ele encontrou. A mulher de branco estava parada na sua frente com a cabeça dos três familiares que diziam '' Por que fez isso, meu filho?'', '' Por que queria nos matar, Clark?'' , ''Pensei que você fosse meu irmão.

-Clark, Clark, Clark! - gritava a mulher, se aproximando do garoto.

As cabeças acompanhavam a fala da mulher, que ia aproximando do garoto cada vez mais. Clark, por sua vez, chorava e chorava. Coitado, não conseguia se mexer. Percebeu que a terra tinha ''sugado'' seus pés e ele estava preso. Não tinha outra saída a não ser a morte. A mulher parou na frente dele e disse:

-Boa noite, Clark.

Clark acorda assustado as 7:00 horas na manhã seguinte. Tudo tinha voltado ao normal. Todos da família estavam presentes. Clark pensava no que tinha acontecido. Talvez um sonho bobo, talvez uma nova história pra contar...