Em sua corrida, Anna lembrava os bons momentos que tivera com seu namorado alguns dias atrás. Infelizmente, sua memória não estava completa. Havia algo diferente com ela, e logo ela foi percebendo isso. Nem todas as flores estavam bonitas, como ela imaginava. E num breve olhar ao seu redor, Anna viu o fogo e o medo. Ela estava se recordando do que tinha acontecido com sua vida.
Com o medo em suas costas, Anna acelerou a sua corrida matinal. Ao longe, ela podia ver sua casa iluminada, com os campos de tulipas ainda intactos. Ela deu um leve sorriso, que foi se desfazendo aos poucos, devido as flores que estavam ao seu redor. Todas as flores estavam perdendo a cor e a beleza. Ao olhar para elas, não havia mais sentido para a vida, para a família, para o amor.
E como o único ponto de felicidade restante, Anna continuou correndo para sua casa, que estava intacta. A escuridão não havia chegado lá. Estava no mesmo ritmo de Anna, que começou a chorar em silêncio.
Os raios de sol estavam se perdendo em meio as nuvens negras, e Anna sabia muito bem disso, pois observou antes de todos. Curioso que não havia mais ninguém. Ela corria com seu irmão todo dia de manhã, para ele observar a beleza da natureza, que se perdeu na escuridão. Seu irmão era um viciado em internet, e por isso Anna o levava todas as manhãs para correr nos campos. Ela acreditava que fazendo isso, seu irmão ia viver mais a vida real, e não um mundo virtual, onde as pessoas tendem a ser reais ao ponto de nos ameaçar por uma simples vitória um jogo qualquer. Sua crença nisso era alta, mas nesse ponto, não havia mais nada para se acreditar. Naquele campo, sua fé foi devorada aos poucos pelas sombras do passado.
Sua casa estava próxima. Anna ganhou esperanças e correu o mais rápido que conseguiu. Sua fé se restaurou e ela acreditou que podia ir até o fim. Ela finalmente sorriu para vencer as sombras que atormentavam ela. Como os raios de sol, seu sorriso iluminou o caminho, dando beleza as flores ao seu redor. Dando vida ao mundo em sua volta.
Anna estava muito perto de sua casa, e conseguiu ver seu irmãozinho na janela, acenando com um sorriso no rosto. Ela também viu ao estranho no céu. Isso incomodou ela, pois era um objeto grande que ia se aproximando aos poucos de sua casa. Não conseguiu definir muito bem o que era, mas sua fé começou a ser consumida novamente, só que mais rapidamente dessa vez. Ela olhou em direção as portas de sua casa, e viu claramente sua mãe, seu pai e seu namorado acenando para ela, com um sorriso no rosto.
Sem intenção, ela desviou o olhar e viu que sua luz não era forte o suficiente para combater o medo ao seu redor, que estava sedento no momento. Anna entrou em desespero ao ver que a escuridão era mais rápida que ela. Ela deu o melhor de si para chegar em seus amados parentes. Quando o caminho acabou, ela abraçou os três de uma vez e começou a chorar, sentindo o medo penetrar em sua mente.
Quando olhou seu pai, ela viu uma lágrima caindo do rosto dele. Ela tentou enxugar, mas ela desmanchou parte de seu rosto. E como ninguém podia esperar, seu pai, sua mãe e seu namorado desmancharam em cinzas negras ao chão. Sem palavras, uma última lágrima caiu de seu rosto, pois o pânico e o desespero não permitiram que ela chorasse mais.
Caindo de joelhos sobre as cinzas de quem amava, Anna desviou o olhar para a janela, onde seu irmão não tinha mais expressão, mas continuava acenando. Ela também viu o objeto se aproximando da casa. Sua fé não foi restaurada, então ela lançou o olhar de despedida para seu irmão, e uma faca surgiu misteriosamente em suas mãos. Anna, com a faca em mãos, direcionou-a para seu peito. Ela conseguiu ver o grande objeto atingir sua casa e desmanchar seu irmão de seus olhares. Quando tocou o solo, o objeto explodiu, queimando tudo em sua volta, menos Anna, que sem mais opções, perfurou seu peito com a faca, deixando para trás uma cidade em chamas.
Quando percebeu, Anna estava deitada em uma cama de hospital, onde tinha acabado de acordar de um coma.
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