sábado, 28 de fevereiro de 2015

Troca de carícias

   -Sabe senhor, às vezes eu penso...
   -Às vezes? Disso eu já sabia – brincou o Sargento Al
   -Deixe-me terminar a frase – respondeu estressado o Cabo Juves. – Como eu ia dizendo, às vezes eu penso sobre o plano daqueles rebeldes de se separarem daquele país de 3° mundo. Como eles eram tolos... Não consigo acreditar que eles acharam que conseguiriam se sustentar com tão pouco.
   -É a vida, gafanhoto. Quando eles viram que não conseguiriam se sustentar, tentaram roubar aquele país, que melhorou com a saída daqueles três estados. Enfim... Isso gerou uma guerra nuclear e hoje estamos aqui, graças a simples rebeldes.
   -Senhor, qual sua... – Juves fora interrompido pelo sino da igreja. Todo dia, aquele sino tocava às 20:00. Era o toque de recolher imposto pelos militares após os frequentes ataques de rebeldes na região.
   -É nossa hora, Cabo. Recolha suas coisas e entre no carro.
   -Sim senhor!
   O Sargento Al e o Cabo Juves eram impostos a fazer a patrulha noturna três dias por semana. Qualquer um que estivesse na rua depois do horário do toque do sino, estava sujeito a prisão se não apresentasse motivos convincentes aos guardas que patrulhavam. Não era só a cidade de Mariot que atuava desta maneira, mas todo o continente restante estava na obrigação de fazer o mesmo.
   As patrulhas ocorriam por toda a cidade para impedir que rebeldes fizessem reuniões para desestruturar alguma parte da milícia. Era comum ver pessoas apressadas correndo por todo lugar após o toque do sino, pois muitas esqueciam da hora e, como não haviam relógios para os moradores pobres da cidade, o sino era como um relógio gigante e barulhento.
   As noites de patrulhas chegavam a ser entediantes para o Cabo Juves, pois não acontecia nada de interessante naquelas madrugadas monótonas. Certas vezes, ele pensava por qual motivo havia entrado para a milícia.
   -Anime-se, Cabo. Bote suas músicas para ouvirmos desta vez – disse o Sargento Al, enquanto Juves abria um leve sorriso e remexia em seus pen-drives.
   Enquanto dirigia, o Sargento Al viu uma estranha luz piscando uns 27 metros de distância. Acelerou o veículo e fechou a cara. O Cabo Juves percebeu a atitude de seu sargento e preparou o cassetete. Quando se aproximaram da luz, um homem fora jogado na frente do veículo e chocou-se com o para-choque dianteiro do carro. Al puxou o freio de mão imediatamente de desceu do carro. Juves, assustado, desceu do veículo também. Ele havia percebido algumas manchas de sangue no vidro e ficou espantado.
   Al fora imediatamente observar o corpo do homem e percebeu que sua garganta havia sido cortada. Toda camisa do sujeito fora pintada de vermelha e seu rosto ganhou um roxo pelo impacto com o carro.
   -Está morto, Juves!
   Juves percebeu a presença de outra pessoa que subia as paredes rapidamente, pulando e se agarrando em objetos ao redor.
   -Parado ai! – gritou Juves, que começou a perseguir o misterioso escalador.
   -Me espere, Juves! –gritou o sargento que começou a perseguir o tal escalador também. Ele acionou o alerta para a polícia local enquanto tentava escalar as paredes.
   Juves e Al foram treinados para esse tipo de perseguição. Portanto, não havia surpresas nas escaladas, mas quem se destacava mais entre os dois era o jovem Juves. O garoto treinava em casa quando tinha que fugir das tarefas que a mãe pedia. Ele sempre subia no telhado de sua casa para observar as estrelas a noite com sua vizinha, Clarice.
   -Você acha que não sou capaz de lhe capturar? – gritava Juves ao misterioso escalador. – Eu vou lhe mostrar quem não é capaz de algo aqui!
   Juves acelerou seus movimentos e dava saltos sobre casas com mais rapidez que o misterioso escalador. Quando viu que podia agarrar aquela pessoa, Juves saltou um beco e se jogou contra o tal escalador que usava uma capa meio esverdeada. Al viu toda a cena e acelerou o passo.
   Quando Juves se deu conta do que tinha acontecido, viu uma faca indo em sua direção e, rapidamente, desviou. Percebeu que era o escalador que dera o golpe. Ambos se levantaram e trocaram golpes um com o outro.
   Usando uma faca de combate, o escalador tentava acertar golpes em Juves, que desviava, criando uma espécie de dança entre os dois. Al se aproximou gritando:
   -Juves! Saia daí!
   O jovem cabo entendeu a mensagem de seu sargento, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, uma risada feminina saiu de dentro do capuz do escalador e, logo depois, um objeto esférico com poucos detalhes e com um pino, semelhante a uma bomba de gás lacrimogêneo.
   Com suavidade, o misterioso escalador puxou o pino, soltou o objeto e cobriu seu rosto com o resto do manto. O tal do objeto explodiu e deixou um grande rastro de fumaça. Al e Juves cobriram seus rostos e tentaram dispersar a fumaça como puderam. Quando a fumaça se espalhou, eles puderam ver a misteriosa pessoa com capuz em um prédio em frente ao beco. A luz do luar permitiu aos dois homens da milícia ver o sorriso coberto de batom vermelho e outras maquiagens.
   -Cuidado para não se arranhar, soldadinho Juves – disse uma voz feminina vinda do capuz esverdeado. – Facas podem ferir... Ou matar!
   O capuz foi retirado pela bela dama que cabelos negros que sorria com sensualidade e malícia ao mesmo tempo. Juves ficou espantado quando reconheceu aquela mulher e nem percebeu o objeto que ela havia arremessado.
   Cortando tudo, menos átomos, aquela faca percorria com suavidade o ar, com uma velocidade que quase se igualava a barreira do som. Abriu sorrateiramente o que restava das nuvens de fumaça de gás que a bomba havia deixado e acertou o braço esquerdo de Juves, cortando nervos até fincar num parapeito próximo.
   Com a velocidade que aquela lâmina que estava extremamente afiada fora lançada, ela deixou apenas a pele ‘’ segurando’’ o braço e o antebraço. Algo tão perfeitamente pensado e calculado para poucos segundos de contas.
   -Juves! Juves! – gritava o Sargento Al enquanto tentava parar o sangramento do cabo.
   -Cla... Cla... – Juves conseguiu dizer palavras incompletas enquanto caia e desmaiava no chão gelado daquela laje.

   Um corte perfeito.

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