domingo, 8 de fevereiro de 2015

O pai

Dia e noite sem parar, ele trabalhava duro. Não tinha dívidas a pagar, morava em uma boa casa. Era feliz. Excepcional o modo que ele tratava seu filho. Brincavam juntos toda a noite com jogos de tabuleiros, video-games, luta, futebol e outras coisas. Fingia perder pra ver o belo sorriso no rosto da criança. Aquela felicidade dava forças para o homem todos os dias.

Chegando em casa, a criança já sabia o que fazer, mas o pai estava ocupado demais naquela noite. Lotado de papéis, chamou a mulher em seu escritório e ficaram lá por meia hora. Quando saiu com suor na cabeça, olhou para a criança e deu um sorriso, pronto para mais uma aventura, mesmo sabendo que foi demitido aquele dia pois a empresa estava falindo, junto com muitas outras. A taxa de desemprego foi alta naquele mês.

A criança estranhava por que seu pai ficava em casa todos os dias pesquisando e lendo anúncios em jornais e na televisão, mas ele sempre estava disposto para ensinar a ela e brincar com ela. Ela estranhou mais ainda quando descobriu que tinha que sair da escola pois seu pai não tinha dinheiro para bancá-la. Foi para uma escola pública, onde apanhava todo o dia. Chegava em casa chorando e o pai ensinava ela a se defender, até que conseguiu. Chegou um dia em casa com um sorriso por ter conseguido se defender. Estava machucado, mas tinha batido também.

Passaram-se meses até que aquela família teve que mudar. Era um sermão por noite na mulher na nova casa. Um barraco com aluguel e a vida daquela família continuava. Um dia, a mulher e o homem ficaram discutindo por horas. Ele tinha descoberto que ela o traíra faz um tempo. O jovem apenas escutava aquela discussão e lamentava. Duas semanas depois, eles se divorciaram.

O aluguel foi ficando caro e o pai desse jovem chegou ao limite: virou morador de rua. Não tinha o apoio da família, que também estava com uma péssima saúde financeira. Todos os dias, esse homem roubava uns 4 pães e alimentava seu filho. Ensinava ele nas ruas e fazia o máximo para protegê-lo. Não deixava que ninguém tocasse nele e viviam a vida assim.

Passaram-se um, dois, quatro anos e o jovem completou 14 anos. O pai resolveu comemorar de uma forma que animasse ele: tentou roubar um bolo de uma padaria. Mas não foi bem assim. Ele pediu e insistiu ao dono da padaria para ceder um bolo para comemorar o aniversário. Contou toda sua história para ele mas era de se esperar que o tal dono não se comovesse com o pobre formado em engenharia civil e direito.

Na mesma noite, ele tentou roubar um bolo para surpreender o seu filho, mas ele foi surpreendido com uma bala nas costas, disparada por um policial ignorante, que deu um depoimento ridículo num lugar onde tinha testemunhas. O corpo desse pai ficou caído lá, e seu filho estava ao lado, chorando sem saber o que fazer. O policial explica o que tinha acontecido para o jovem e diz palavras ridículas para ele:

-Esse seu pai é só mais um ladrão que está morto. Não vai fazer diferença. Lhe fiz um favor garoto, não seja igual seu pai!

O jovem com o ódio correndo pelas veias com a vontade de matar o policial, queimar seu corpo e jogá-lo no mais profundo lugar do inferno, apenas respondeu, com uma voz no choro:

-Eu quero ser como meu pai! Ele não era um ladrão, ele era um herói!

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