-Sabe senhor, às vezes eu penso...
-Às vezes? Disso eu já sabia – brincou o Sargento Al
-Deixe-me terminar a frase – respondeu estressado o Cabo Juves. – Como eu
ia dizendo, às vezes eu penso sobre o plano daqueles rebeldes de se separarem
daquele país de 3° mundo. Como eles eram tolos... Não consigo acreditar que
eles acharam que conseguiriam se sustentar com tão pouco.
-É a vida, gafanhoto. Quando eles viram que não conseguiriam se
sustentar, tentaram roubar aquele país, que melhorou com a saída daqueles três
estados. Enfim... Isso gerou uma guerra nuclear e hoje estamos aqui, graças a
simples rebeldes.
-Senhor, qual sua... – Juves fora interrompido pelo sino da igreja. Todo
dia, aquele sino tocava às 20:00. Era o toque de recolher imposto pelos
militares após os frequentes ataques de rebeldes na região.
-É nossa hora, Cabo. Recolha suas coisas e entre no carro.
-Sim senhor!
O Sargento Al e o Cabo Juves eram impostos a fazer a patrulha noturna
três dias por semana. Qualquer um que estivesse na rua depois do horário do toque
do sino, estava sujeito a prisão se não apresentasse motivos convincentes aos
guardas que patrulhavam. Não era só a cidade de Mariot que atuava desta
maneira, mas todo o continente restante estava na obrigação de fazer o mesmo.
As patrulhas ocorriam por toda a cidade para impedir que rebeldes
fizessem reuniões para desestruturar alguma parte da milícia. Era comum ver
pessoas apressadas correndo por todo lugar após o toque do sino, pois muitas
esqueciam da hora e, como não haviam relógios para os moradores pobres da
cidade, o sino era como um relógio gigante e barulhento.
As noites de patrulhas chegavam a ser entediantes para o Cabo Juves,
pois não acontecia nada de interessante naquelas madrugadas monótonas. Certas
vezes, ele pensava por qual motivo havia entrado para a milícia.
-Anime-se, Cabo. Bote suas músicas para ouvirmos desta vez – disse o
Sargento Al, enquanto Juves abria um leve sorriso e remexia em seus pen-drives.
Enquanto dirigia, o Sargento Al viu uma estranha luz piscando uns 27
metros de distância. Acelerou o veículo e fechou a cara. O Cabo Juves percebeu
a atitude de seu sargento e preparou o cassetete. Quando se aproximaram da luz,
um homem fora jogado na frente do veículo e chocou-se com o para-choque
dianteiro do carro. Al puxou o freio de mão imediatamente de desceu do carro.
Juves, assustado, desceu do veículo também. Ele havia percebido algumas manchas
de sangue no vidro e ficou espantado.
Al fora imediatamente observar o corpo do homem e percebeu que sua
garganta havia sido cortada. Toda camisa do sujeito fora pintada de vermelha e
seu rosto ganhou um roxo pelo impacto com o carro.
-Está morto, Juves!
Juves percebeu a presença de outra pessoa que subia as paredes
rapidamente, pulando e se agarrando em objetos ao redor.
-Parado ai! – gritou Juves, que começou a perseguir o misterioso
escalador.
-Me espere, Juves! –gritou o sargento que começou a perseguir o tal
escalador também. Ele acionou o alerta para a polícia local enquanto tentava
escalar as paredes.
Juves e Al foram treinados para esse tipo de perseguição. Portanto, não
havia surpresas nas escaladas, mas quem se destacava mais entre os dois era o
jovem Juves. O garoto treinava em casa quando tinha que fugir das tarefas que a
mãe pedia. Ele sempre subia no telhado de sua casa para observar as estrelas a
noite com sua vizinha, Clarice.
-Você acha que não sou capaz de lhe capturar? – gritava Juves ao
misterioso escalador. – Eu vou lhe mostrar quem não é capaz de algo aqui!
Juves acelerou seus movimentos e dava saltos sobre casas com mais
rapidez que o misterioso escalador. Quando viu que podia agarrar aquela pessoa,
Juves saltou um beco e se jogou contra o tal escalador que usava uma capa meio
esverdeada. Al viu toda a cena e acelerou o passo.
Quando Juves se deu conta do que tinha acontecido, viu uma faca indo em
sua direção e, rapidamente, desviou. Percebeu que era o escalador que dera o
golpe. Ambos se levantaram e trocaram golpes um com o outro.
Usando uma faca de combate, o escalador tentava acertar golpes em Juves,
que desviava, criando uma espécie de dança entre os dois. Al se aproximou
gritando:
-Juves! Saia daí!
O jovem cabo entendeu a mensagem de seu sargento, mas antes que pudesse
fazer alguma coisa, uma risada feminina saiu de dentro do capuz do escalador e,
logo depois, um objeto esférico com poucos detalhes e com um pino, semelhante a
uma bomba de gás lacrimogêneo.
Com suavidade, o misterioso escalador puxou o pino, soltou o objeto e
cobriu seu rosto com o resto do manto. O tal do objeto explodiu e deixou um
grande rastro de fumaça. Al e Juves cobriram seus rostos e tentaram dispersar a
fumaça como puderam. Quando a fumaça se espalhou, eles puderam ver a misteriosa
pessoa com capuz em um prédio em frente ao beco. A luz do luar permitiu aos
dois homens da milícia ver o sorriso coberto de batom vermelho e outras
maquiagens.
-Cuidado para não se arranhar,
soldadinho Juves – disse uma voz feminina vinda do capuz esverdeado. – Facas podem
ferir... Ou matar!
O capuz foi retirado pela bela dama que cabelos negros que sorria com
sensualidade e malícia ao mesmo tempo. Juves ficou espantado quando reconheceu
aquela mulher e nem percebeu o objeto que ela havia arremessado.
Cortando tudo, menos átomos, aquela faca percorria com suavidade o ar,
com uma velocidade que quase se igualava a barreira do som. Abriu sorrateiramente
o que restava das nuvens de fumaça de gás que a bomba havia deixado e acertou o
braço esquerdo de Juves, cortando nervos até fincar num parapeito próximo.
Com a velocidade que aquela lâmina que estava extremamente afiada fora
lançada, ela deixou apenas a pele ‘’ segurando’’ o braço e o antebraço. Algo
tão perfeitamente pensado e calculado para poucos segundos de contas.
-Juves! Juves! – gritava o Sargento Al enquanto tentava parar o
sangramento do cabo.
-Cla... Cla... – Juves conseguiu dizer palavras incompletas enquanto
caia e desmaiava no chão gelado daquela laje.
Um corte perfeito.